- Eliete fala à Revista Tai Chi Brasil

Entrevista com Eliete Ramos na 17º Edição da

Revista Tai Chi Chuan

 

Um Encontro com o

Tai Chi Chuan

aos 6 anos de idade

Morava no interior de SãoPaulo, era época de imigraçãoe meu vizinho era um senhorchinês. Pela manhã, praticava TaiChi. Evidentemente, não sabia onome, mas aqueles movimentos

harmoniosos me tocavamprofundamente e da minha casa eu o imitava. Desde então, comeceia procurar onde encontrar aquela dança.Ele se mudou e meus pais também, novo lar, novos amiguinhos...até que um dia, um dos pais comprou um televisor e convidou toda a garotada para assistir TV. Ao ligar e girar o botão, eu me deparo com uma entrevista com Mestre Liu Pai Lin chegando ao Brasil. E aí começa a minha trajetória com o Tai Chi Chuan. Comecei a trabalhar aos 12 anos e aos 14 anos me mudei para São Paulo, fui morar com minha tia em Higienópolis e comecei a busca pelas artes orientais e filosofia. Apesar de iniciar com o método Pai Lin, continuava em busca daquela dança que aprendi com o chinês. O tempo passa... Sempre curiosa e buscando as filosofias orientais, até que me chega informação que havia uma escola de Tai Chi Chuan na Rua Augusta.

E lá fui eu... Ali encontrei o que eu queria: a dança, os estudos

filosóficos, a arte. Nesse lugar permaneci por 15 anos, adorava os estudos budistas, taoístas, confucionistas, o I Ching, os trabalhos corporais, sendo que por 7 anos ministrei aula de Tai Chi Chuan do estilo Yang do Mestre Ma Tsuen Kwen e em 1993 implantei o Lian Gong Shi Ba Fa, que estava em plena expansão. Ali iniciava mais uma atividade na Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan e Cultura Oriental. Em 1998 iria acontecer em Shangai o “Campeonato Mundial de Lian Gong” e imediatamente me integrei à equipe que iria representar o Brasil, estando à frente Maria Lucia Lee.

 

Os preparativos iniciaram no final de 1996. O ano de 1997 foi de muitas expectativas, muitos treinos e dedicação para seguir para Shangai no início de 1998. Para minha surpresa, Maria Ângela Soci, minha querida professora de Tai Chi na época, almejava chegar na Província de Shanxi, na China, para estudar com o Grão Mestre Yang

Zhenduo, mas gostaria de ter uma companhia, e tomou-se a decisão

de preparar-se para participar do Campeonato de Lian Gong, em Shangai, e seguirmos para a Província de Shanxi. E assim aconteceu.....Até hoje me lembro do olhar do Grão Mestre Yang Zhenduo ao abrir a porta de sua casa e deparar-se com duas ocidentais sorridentes. Estávamos em companhia do tradutor chinês para o inglês, paradas na porta da casa do Mestre, mas aos poucos tudo foi se esclarecendo.
 

Foi um momento muito especial, pois ali senti o que era estar com um “Grande Mestre”!

Combinou-se, então, de iniciarmos os treinos na próxima manhã em sua residência, ainda

com um tom desconfiado, pois : - não era possível duas ocidentais chegarem do outro lado do mundo sem uma razão precisa. Eu sempre consciente da minha posição como aluna da

Ângela, apesar de recebermos os mesmos ensinamentos , a transmissão de cada detalhe, sem distinção.

Lembro-me do primeiro dia de aula, quando Mestre Yang Zhenduo solicitou que fizéssemos

alguns movimentos da forma. A sua testa “franziu”, pediu para parar o que estávamos fazendo e passou alguns exercícios e disse:- “Sigam para o hotel , esqueça o antigo aprendizado e treinem até fixarem esses exercícios”. Foi um exercício mental e físico, sem
igual, para diluir uma estrutura e em pouquíssimo tempo absorver a nova técnica, mas deixou o convite para os treinos matinais, e foi fantástico!

Todos os dias, novos movimentos eram dados, mas..antes de qualquer coisa, revisão
da lição anterior. No último dia de aula frizou:- “Não é porque estão recebendo ensinamentos diretos, em minha casa, que são diferentes de outros praticantes, o mais importante é o cultivo da “humildade”!”

Mas acredito que ficou muito feliz na época com os resultados, pois nos ofereceu um
banquete preparado por ele e sua esposa. Foi um momento muito especial, ele estava muito alegre. Sentamos à mesa:- uma ao lado da outra e a meu lado o Mestre
Yang Zhenduo. Também estava Yang Jung e sua família, todos nós desfrutando de um almoço inesquecível!

E, na minha memória, ficouo registro do Mestre, ascenando na porta de sua casa, como que dizendo: - “ Força, Determinação eDisciplina! Estudem com Afinco!

Ao retornar da China, continuei com o desenvolvimento do TCC que aprendi através dos ensinamentos diretos do Grão Mestre Yang Zhenduo, até que no início de 1999 , encerro minha estada na SBTCC , mas recebo um convite  do Prefeito Celso Daniel (In Memorian), da cidade de Santo André, município de São Paulo,  para desenvolver  projeto para os munícipes atingindo a Saúde e Educação, com o Tai Chi Chuan, Lian Gong, Qi Gong, Medicina Chinesa, e Massagem Tui Ná.  Esse projeto  continua acontecendo e  completou  14 anos em 2012.

Com a expansão das artes no ABC senti necessidade de ir em busca de aprofundamentos. Em 2000 fui  para Seatlle na Associação Internacional , estudar diretamente com  Mestre Yang Jun,  e participar das aulas regulares. Na Associação Internacional  estudei formas:-  longa e  curta, sabre e espada, e em escolas específicas no EUA fui em busca de novos conhecimentos da parte de biomecânica, para unificar com os estudos realizados na Escola do Movimento Ivaldo Bertazzo no qual eu me formei, e aprofundar os estudos em  Medicina Tradicional Chinesa,  onde  aplico nas aulas  de  Reestruturação Corporal  para o desenvolvimento das artes, que acontecem no Pulsare Práticas Orientais  no Tatuapé (SP) e na Sociedade Taoísta do Brasil no Bairro da Liberdade (SP) .

Sem nunca parar de estudar, aperfeiçoei  os estudos de  Medicina Tradicional Chinesa, Diagnóstico, Tui Na, Qi Gong, estudos taoístas e budistas, o I Ching, e o aperfeiçoamento do Tai Chi,  para tanto, fui ao encontro de  grandes Mestres  Wu Jyg Cherng (In Memorian) da Sociedade Taoísta do Brasil,   Mestre Liu Chih Ming (Cemetrac), Grã Mestra de Qi Gong  Fan XiuLan da Biyun Academy , sendo que em 2008, fui agraciada com outra grande oportunidade, me integrando ao Grupo “Art’Chi do Rio de Janeiro, liderado pelo  Professor Estevam Ribeiro, para estudar na Província de Hanzhou  com a Grã Mestra Shen Hai Ming, e em Hong Kong com os Mestres Chen Shek One e Chen Iun Sok Kei e no Brasil ter realizado seminários com o Grão Mestre Chen Xiao Wang, do qual Estevam é Representante do estilo Chen, e praticar Tai Chi em Paris.

E junto a tudo isso... implantando as artes, através de projetos para outras prefeituras como:  São Bernardo do Campo,  Diadema, Jacareí, em empresas, em hospitais,  desenvolvendo  cursos de capacitação em várias secretarias, e trabalhando ativamente com Atividades Personalizadas. Ao olhar para frente, agradeço o  apoio de duas pessoas especiais: Silvana Dell’Aringa que esteve comigo em Seatlle na Associação Internacional, e minha filha Tathiana Sneiders, que nunca me deixou desistir.

Ao olhar para trás, percebo que estou abraçada com o Tai Chi há 53 anos.

E para culminar esse ciclo de vida, me integro ao grupo   Equilibrius – Centro de Tai Chi Chuan, Acupuntura e Cultura Oriental , liderada pelo Fernando de Lazzari que é Representante da Família Yang em Ribeirão Preto, para  o IV Encontro Seminário e Torneio Internacional de Tai Chi Chuan da Família Yang e Tour Cultural  na Província de Shanxi  em 2012.

Realmente emocionante! O Tai Chi é isso!  Uma missão de vida!  Muitas sementes são distribuídas, as vezes trabalhamos solitários e anônimos, mas podem ter certeza que essas sementes germinam. Cada uma fazendo a sua parte.

Hoje eu agradeço ao senhor chinês do começo da minha história: solitário, calado, com um sorriso nos lábios,  que me fez descobrir, que o mais importante é SER O TAI CHI :

“SIMPLESMENTE FELIZ!